Há mais de seis anos Santa Maria viveu a maior tragédia do Estado, mas a dor de quem perdeu um filho naquele 27 de janeiro parece aumentar assim que uma nova tragédia é noticiada. Foi essa a sensação quando rompeu a barragem na cidade de Mariana, em 2015, com o caso da barragem em Brumadinho e se repetiu, na sexta-feira, com a notícia da morte dos meninos que jogavam na base do Flamengo e morreram após um incêndio no alojamento.
Neste sábado, os Flávio José da Silva e Ligiane Righi, pais de Andrieli Righi da Silva - uma das 242 vítimas da Kiss - deixam Santa Maria e viajam até Porto Alegre. Da capital gaúcha eles embarcam, no domingo, rumo a Brumadinho. De Santa Maria eles levam solidariedade, carinho e mensagens escritas por mães que perderam seus filhos na boate Kiss.
Isso começou quando Jaqueline Malezan, mãe de Augusto Malezan, teve a ideia e fez a proposta em um grupo de WhatsApp. Na tarde de sexta-feira, ela se encontrou com outras cinco mães para escrever mais de 100 bilhetinhos com frases de apoio e solidariedade. O grande número de mensagens de só foi possível com ajuda de Geneci Bica de Oliveira (mãe do Danrlei Darin), Maria Aparecida Neves (mãe de Augusto Cezar Neves), Marta Beuren (mãe de Silvio Beuren) e Rosane Pendeza Callegaro (mãe de Ruan Pendenza Callegaro). Além delas, Mara Machado Bona, mãe de Mariana Bona, que está em outra cidade, mandou textos de apoio aos familiares de vítimas de Brumadinho que, na noite de sexta-feira, eram 151.
O mesmo apoio essas mães tiveram quando mães de vítimas do incêndio da boate Cromañon, na Argentina, em 2004, estiveram em Santa Maria após o incêndio da Kiss:
- Só o abraço que elas deram em nós, a maneira com que olharam para nós, a gente sentiu o elo da mesma dor, do mesmo fato... era algo delas e nosso. Coisa que elas jamais gostaria que acontecesse de novo elas tiveram de viver novamente tudo aquilo. Agora, a gente quer levar um pouco desse sentimento para Brumadinho - comenta Marta.
Jaqueline conta que, acompanhando as notícias da tragédia mais recente de Minas Gerais, viu um familiar dar entrevista e lembrou que ela se sentiu da mesma forma, no dia 27 de janeiro de 2013:
- Eu queria mesmo é ir até lá, dar um abraço. Eu vi na televisão a irmã de uma vítima dizendo que ela não precisava de comida, não precisava de dinheiro, que ela só precisava de um abraço. Naquela hora, me deu vontade de entrar na tela e abraçá-la, porque senti exatamente isso.
REDE DE SOLIDARIEDADE
Flávio José da Silva, que também é vice-presidente da Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), conta que já está em contato com defensores públicos de Minas Gerais que estão atuando no caso Brumadinho. Por meio dos defensores públicos eles devem dar apoio às pessoas que perderam amigos, filhos, maridos e esposas na tragédia. O casal fica em Minas Gerais até a manhã de quinta-feira, quando retornam para o Rio Grande do Sul.
PARA PEDIR JUSTIÇA TAMBÉM
Flávio explica que, além de prestar apoio e solidariedade, eles devem conversar com os familiares sobre como a AVTSM surgiu e se organiza, para o caso de uma associação ser fundada em Brumadinho. Ele cita o observatório que será criado para acompanhar grandes tragédias, anunciado nos últimos dias pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge. A promessa é que o observatório garanta celeridade nos processos judiciais.
- A gente vai sempre deixar claro que esse observatório não seja só mais um discurso, e sim, seja para ajudar mesmo. Mas também queremos lembrar que não era preciso esperar a tragédia de Brumadinho para que ele fosse criado - explica Flávio.
Ele conta que a AVTSM aguarda um pedido feito para as assessorias de Toffoli e Raquel Dodge, para que recebam, pessoalmente, representantes da AVTSM que ainda esperam por justiça no Caso Kiss.